quinta-feira, 8 de março de 2012

Polícia do Rio de Janeiro busca 10 milicianos foragidos


Polícia procura 10 foragidos acusados de integrar milícia


Por Marcello Victor e Vania Cunha

Nove PMs integram grupo de 16 acusados de matar e extorquir moradores, comerciantes e traficantes em Duque de Caxias.

Acusada de matar nove testemunhas, além de ameaçar dois promotores e um delegado, uma quadrilha de milicianos foi desarticulada nesta quarta-feira em Duque de Caxias, na Baixada. A Operação Pacificador prendeu 16 suspeitos — entre eles, nove policiais militares e um fuzileiro naval — que atuariam em 15 bairros. Apontados pela polícia como violentos, os criminosos matavam, intimidavam e extorquiam moradores, comerciantes e traficantes. Dez acusados estão foragidos.

Os acusados foram presos em 2010 na Operação Capa Preta, mas conseguiram liberdade há três meses. As investigações da polícia e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público mostram que, desde a primeira ação, nove testemunhas e colaboradores dos processos foram assassinados. Entre as vítimas, estão um PM que colaborou com as investigações; o dono de um depósito de gás morto mesmo após voltar atrás nas acusações contra o grupo; e um criminoso da região que denunciou o esquema. Ainda segundo a polícia, o índice de homicídios em Caxias também aumentou depois da soltura dos acusados.

Milicianos chegaram a ameaçar dois promotores e o delegado Alexandre Capote, da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco/IE), que atuavam nas investigações. Todos passaram a andar sob forte esquema de segurança.

“O que costuma acontecer são os telefonemas com vozes estranhas, ou informações que chegam através do Disque-Denúncia. Dessa vez, o que chamou a atenção foram as ameaças contundentes, com informações detalhadas sobre a rotina, endereço, o que fazem, e familiares dos ameaçados”, explicou o promotor Décio Alonso, do Gaeco. Segundo ele, os colegas ameaçados estão fazendo curso fora do País.

O promotor ressaltou que os nomes das testemunhas foram ocultados no processo para evitar novas mortes. Um informante ajudou na operação desta quarta-feira, mas permaneceu em carro com vidros escuros. O delegado Alexandre Capote não alterou sua rotina.

“A ameaça não é surpresa. A surpresa foi a audácia com que os criminosos agiram. Acabamos com o mito de que a milícia é um mal menor”, afirmou o delegado.

‘Clube’ era local de reuniões

No bairro Vila Rosário, agentes da Draco estiveram no Piscinão do Barbudo, local usado, segundo as investigações, para reuniões da quadrilha. Numa área com duas piscinas, churrasqueira, sinuca e palco para shows, chamou a atenção a quantidade de bebidas: quatro tonéis, com capacidade para cerca de 1.500 litros, estavam lotados de latas de cerveja.

No mesmo bairro foram presos o ex-PM Carlos Augusto Santos e Bruno Ramalho. Carlos já havia sido preso na Operação Capa Preta. Bruno é apontado como o matador da quadrilha. O irmão dele, Marcelo Ramalho, o MM, não estava em casa quando os agentes chegaram.

As investigações mostram que a quadrilha lucrava R$ 300 mil por mês com a exploração de serviços de segurança, vans, gás, internet, gatonet, água, cestas básicas, agiotagem, jogos de azar, desapropriação de moradores e taxa para que traficantes vendessem drogas fora das comunidades.

Acusados de matar 50 e de vender armas para traficantes do Alemão

A ação de ontem foi um desdobramento da Operação Capa Preta, que em 2010 prendeu 29 acusados de integrar a milícia. Eles eram suspeitos de participar de pelo menos 50 homicídios violentos, com muitos tiros, e de terem vendido armas a traficantes do Complexo do Alemão.

Quatro continuam presos e foram transferidos para penitenciárias federais de segurança máxima. Dois deles, apontados como os líderes do esquema, são os vereadores de Caxias Jonas Gonçalves da Silva, o Jonas é Nós, que também é soldado reformado da PM; e Sebastião Ferreira da Silva, o Chiquinho Grandão. Segundo o MP, mesmo presos no Batalhão Especial Prisional (BEP) e em Bangu 8, os acusados continuariam a dar ordens aos comparsas fora da cadeia. Por isso, foram transferidos para fora do estado. Eles já tiveram pedidos de liberdade negados.

Filho de Jonas, o ex-PM Éder Fábio Gonçalves da Silva, o Fabinho é Nós, também foi acusado pelos crimes na Operação Capa Preta. Pela atuação de pai e filho, a milícia ficou conhecida na região como ‘Família É Nós’.

O desdobramento das investigações será descobrir o destino do dinheiro lucrado pela milícia com as irregularidades. A corregedoria da Polícia Militar também participou das investigações e prisões.

Tortura e lesão corporal entre as denúncias

Segundo a denúncia do MP, os crimes praticados pelo bando são cruéis e envolvem, além dos homicídios, tortura, ocultação de cadáver e lesões corporais. Promotores classificaram a quadrilha como mais violenta que tráfico e a milícia da Zona Oeste. “A situação beira o caos. Pedimos à população que denuncie”, disse o promotor Décio Alonso.

Foram expedidos 25 mandados de prisão e 58 de busca e apreensão pela 2ª Vara Criminal de Caxias. Um, para a revista de armários no 15º BPM (Caxias), não foi cumprido porque os acusados não integram mais a unidade.

Integrantes com posições bem definidas

Segundo a polícia, o tenente Samuel teria atuação de destaque no bando. Investigações mostram que a participação de cada um era muito bem definida. As funções eram de matadores, cobradores de taxas, agiotas e policiais que faziam a segurança dos pontos tomados pela milícia, para justificar a presença de armas. Os 25 acusados respondem por formação de quadrilha armada para a prática de crime hediondo.


Foto: Osvaldo Praddo / Agência O Dia

Fonte: ODia.

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