segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

No Rio de Janeiro quem mata mais são as milícias



Áreas controladas por milícias concentram homicídios no Rio



Santa Cruz tem a taxa mais alta.  Menor redução de assassinatos ocorre na zona oeste





Rio, 05/11/2011 - Apesar de a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro comemorar a prisão de 624 suspeitos de ligação com milícias nos últimos cinco anos e de grupos paramilitares rivais terem firmado trégua, a atuação dos milicianos preocupa. Dados do ISP (Instituto de Segurança Pública) mostram que as regiões onde há maior presença de milícias na capital, como os bairros de Campo Grande e Santa Cruz, ambos na zona oeste, estão entre as que registraram mais assassinatos.





Investigadores da Divisão de Homicídios ouvidos pelo R7 dizem que, quando os homicídios cometidos na capital são separados por categorias, como ligação com tráfico ou crime passional, as mortes relacionadas às milícias são maioria.

Em julho passado, a área patrulhada pelo Batalhão de Santa Cruz (27º BPM), que inclui os bairros de Santa Cruz, Paciência, Sepetiba, Guaratiba e Pedra de Guaratiba, registrou taxa de 3,61 homicídios por 100 mil habitantes, a maior da capital. Naquele mês, a média foi de um assassinato a cada dois dias (16 no total). Os dados são os mais recentes divulgados pela secretaria de segurança.

Na região, há favelas dominadas pelo tráfico, como Antares, Rola e Cesarão, mas de acordo com a Divisão de Homicídios, a maior parte dos homicídios é praticada por milicianos, que atuam em ao menos seis comunidades, entre elas, o conjunto João 23 e Nova Sepetiba.

Foi em Santa Cruz que o ex-PM Welington Vaz de Oliveira morreu no último dia 19 ao ter o carro atingido por mais de 50 tiros de fuzil. Moradores da região dizem que a situação piorou depois que o também ex-PM Carlos Ari Ribeiro, o Carlão, fugiu do BEP (Batalhão Especial Prisional), da PM, em setembro. Carlão que estaria em Santa Cruz, é considerado braço armado da milícia e teria cometido ao menos 15 assassinatos.

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Entre os milicianos presos desde 2006, 214 eram agentes ou ex-agentes do Estado, como PMs, policiais civis, bombeiros, integrantes das Forças Armadas, Guarda Municipal e Polícia Federal, o que corresponde a 34% do total. Um era deputado estadual e sete, vereadores. Os outros 402 eram civis.

Em segundo lugar no índice de homicídios, está a região patrulhada pelo Batalhão de Bangu (14º BPM), que registrou 25 assassinatos em julho, com uma taxa de 3,49 por 100 mil habitantes. No entanto, a região registrou, no ano, mais de 30 mortes ligadas à guerra de traficantes rivais pelo controle da Vila Kennedy.

Na sequência, surgem no ranking de homicídios os bairros de Campo Grande, Cosmos, Inhoaíba, Santíssimo e Senador Vasconcelos (área do 40º BPM), com 18 homicídios no mês e taxa de 3,42 assassinatos para cada 100 mil moradores. A região possui mais de 20 comunidades, todas controladas por milícias, cujo chefe é o ex-PM Tony Ângelo.

Apesar de se concentrarem em bairros da zona oeste, a região recebeu apenas duas das 18 UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) já implantadas, uma na favela do Batan, que era reduto de milícia, e outra na Cidade de Deus, antes controlada por traficantes.

Para o fundador do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), coronel Paulo César Amêndola, a implantação de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) nas zonas sul, norte e centro do Rio contribuem para índices de criminalidade altos na zona oeste.

“- As favelas controladas pelo tráfico na zona oeste receberam bandidos que fugiram das favelas pacificadas, assim como a Baixada Fluminense, São Gonçalo e região dos Lagos. Em áreas de milícia, falta efetivo. A PM, por exemplo, não teve efetivo suficiente para fazer um patrulhamento constante nessas regiões. Operações diárias poderiam reduzir os homicídios na região.”

Deputado defende ataque às finanças

Na comparação entre as três regiões, a área do 27º BPM foi a única que não teve queda de homicídios entre os primeiros sete meses de 2006 e o mesmo período deste ano. Foram 121 casos entre janeiro e julho de 2006 contra 123 no mesmo período deste ano, aumento de 1,6%. Já na área do 40º BPM, houve redução de 57%, baixando de 190 para 82, e na região patrulhada pelo 14º BPM, a redução foi de 40%, passando de 245 homicídios para 148.

O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), que presidiu a CPI das Milícias em 2008, elogiou as prisões de milicianos. Entretanto, para ele, isso é insuficiente para enfrentar os grupos paramilitares que atuam no Estado.

“- A CPI das Milícias provocou uma mudança no discurso do governo. Não deu mais para ignorar o problema das milícias e nenhuma autoridade ousou se referir a elas como um mal menor na segurança pública do Rio. A CPI apresentou 58 propostas de medidas concretas contra as milícias, mas a maioria sequer saiu do papel.”

Segundo ele, há proposta de competência dos governos municipal, estadual e federal. As principais se referem ao mapeamento e à contenção das atividades econômicas dos grupos criminosos que são fonte do lucro e de sustentação das milícias.

Rio tem 12 homicídios por dia

Entre janeiro e julho deste ano, 2.587 pessoas foram assassinadas no Estado, uma média de 12 por dia. Na capital, foram 878 homicídios, média de quatro a cada dia.

A zona oeste responde pela maioria dos casos, com 405 registros, segundo o ISP. A zona norte, que concentra a maior parte das favelas controladas pelo tráfico, registrou 400 casos nos primeiros sete meses do ano. Na zona sul, foram 23 casos, e na região central, 50.

Em todas as regiões da capital, houve queda na comparação com o mesmo período de 2010, mas a menor redução aconteceu na zona oeste (8%). Na zona norte, a redução foi de 13%; na região sul, de 15% e, no centro, queda de 34%.

Na capital, onde a Divisão de Homicídios recebeu investimentos nos últimos dois anos, o índice de elucidação de casos saiu de 3% para mais de 30%. A meta para 2012 é chegar a 40% de homicídios com autoria conhecida.

Um investigador da Polícia Civil contou que as prisões dos chefes das milícias da zona oeste e o pacto de não agressão firmado entre grupos rivais contribuíram para a redução dos índices na região, mas ainda há dificuldades para elucidar os casos.

“ - As milícias agem com muita violência. Os assassinatos são cometidos com armas de grosso calibre e muitos tiros. Eles matam suas vítimas na frente de todo mundo para intimidar as pessoas. É difícil conseguir testemunhas que prestem depoimento. Todos têm medo. Eles também costumam matar pessoas que praticam pequenos furtos e roubos nas regiões controladas por eles.”


Por Marcelo Bastos
Fotos: Alexandre Vieira/Agência O Dia
Fonte: R7

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