sábado, 19 de fevereiro de 2011

Operação Guilhotina: quase meia centena de denunciados

Operação Guilhotina: Ministério Público denuncia 44 pessoas


Rio de Janeiro, 19 de fevereiro de 2011 - Quarenta e quatro pessoas, incluindo 32 policiais, acusadas de envolvimento na venda de informações e de espólio de guerra para o tráfico, além de prestar segurança particular para casas de jogos de azar, foram denunciadas, nesta sexta-feira, pelo Ministério Público (MP). Os acusados foram divididos em quatro grupos pelos promotores Homero das Neves Freitras Filho, Márcio Nobre, Alexandre Murilo Graça e Luís Otávio Figueira Lopes, que assinam as respectivas denúncias. O primeiro grupo é acusado de atuar em uma milícia na favela Roquete Pinto, em Ramos, onde controlava entre outras coisas, o monopólio de distribuição de gás e água, e é composto por 20 pessoas. 


Segundo a denúncia, o bando é chefiado pelo policial militar da reserva Ricardo Afonso Fernandes, o Afonsinho, pelo filho dele, o inspetor Christiano Gaspar Fernandes, e pelo policial civil Giovanni Gaspar Fernandes. O delegado Carlos Oliveira, ex-subchefe de Polícia Civil, é apontado como sendo o homem encarregado de facilitar as atividades ilícitas da quadrilha.

Sete policiais civis e militares, entre eles Roberto Luis Dias de Oliveira, o Beto Cachorro, fazem parte do segundo escalão do grupo e são acusados de se aproveitar de suas funções em operações policiais para arrecadar armas e outras mercadorias de interesse da milícia. O restante do bando atua no controle da favela, sendo responsável pelo “patrulhamento” da comunidade. O bando foi denunciado, entre outros crimes, por formação de quadrilha e extorsão.

O segundo grupo, composto pelos PMs Floriano Jorge Evangelista de Araújo, o Xexa, Ivan Jorge Evangelista de Araújo, Wellington Pereira de Araújo e Carlos Eduardo Nepomuceno Santos é acusado de se apropiar de bens de traficantes, durante ocupação do Complexo do Alemão, e de ter recebido a quantia mensal de R$ 20 mil do traficante Rogério Rios Mosqueira, o Roupinol. Todos foram denunciados por formação de quadrilha e peculato.

O terceiro grupo, composto por 13 pessoas, entre elas os policiais Helênio Dias Rodrigues, apontado como chefe deste bando, e Marcelo Nakamura é acusado de prestar serviços de segurança privada em casa de jogos de azar. Todos foram denunciados por crime de formação de quadrilha.

O último grupo, composto por seis pessoas, entre elas o inspetor Leonardo da Silva Torres, o Trovão , é acusado da venda de espólio de guerra e de recebimento de propina de R$ 50 mil dos traficantes Rogério Roupinol e Antonio Francisco Bomfim Lopes, o Nem da Rocinha. O sexteto foi denunciado por crimes de formação de quadrilha e peculato.

Os suspeitos foram denunciados por formação de quadrilha, peculato, corrupção passiva, extorsão, violação de sigilo funcional e comércio ilegal de arma. Dos 45, 41 estão presos. Dois acusados não viraram réus porque seus nomes completos não foram descobertos.

A pedido do coordenador da 1ª Central de Inquéritos do MP, promotor Homero das Neves, a denúncia foi desmembrada em quatro, pois as investigações revelaram esquemas criminosos distintos. “Entre os crimes cometidos, a milícia é o pior porque domina milhares de pessoas em comunidades carentes, cobrando taxas por vários serviços”, criticou Homero.

Segundo o MP, os “denunciados, consciente e voluntariamente, em proveito próprio ou alheio, apropriaram-se e desviaram bens em razão do cargo que ocupavam”. Para o juiz em exercício da 32ª Vara Criminal, Guilherme Schilling Pollo Duarte, o desmembramento da ação, além de fundamental para a defesa dos réus, ajudará também na celeridade processual.

Entre os denunciados está o delegado Carlos Oliveira, ex-subchefe operacional de Polícia, que foi braço-direito do ex-chefe de Polícia Civil Allan Turnowski. Oliveira vai responder por formação de quadrilha, peculato (apropriação de bens por servidor público) e comércio de armas de fogo.

De acordo com as investigações, um grupo fazia parte de milícia; dois eram ligados a traficantes e praticavam o ‘espólio de guerra’ (desviavam armas, munição, drogas e objetos apreendidos em operações); e o quarto atuava na segurança de contraventores.

Segundo a Polícia Federal, um dos grupos “promoveu uma verdadeira devassa no Complexo do Alemão”, durante a ocupação da região ano passado. Os agentes chegaram a chamar o local de Serra Pelada, região do Pará famosa pela corrida ao ouro nos anos 80. Outros policiais teriam recebido propina dos traficantes Rogério Rios Mosqueira, o Roupinol, morto no ano passado, e de Antonio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, para vazar as operações.

Juiz: ‘Regime de terror em comunidades’

Para o juiz Guilherme Schilling , a investigação revela que “alguns dos indiciados exercem efetivo comando de organização criminosa, impondo verdadeiro regime de terror em determinadas comunidades carentes”. É uma referência do magistrado à milícia da Favela Roquete Pinto, em Ramos. Do grupo, formado por 20 pessoas, faria parte o delegado Carlos Oliveira.

Segundo a denúncia, não existia hierarquia entre a chefia da milícia, exercida por três policiais, e os que atuavam no segundo escalão do bando. Oliveira seria responsável por “facilitar suas atividades controlando as autoridades das delegacias nas quais os milicianos exerciam suas funções”.

Alguns integrantes tinham a missão de arrecadar bens e armas, enquanto outros patrulhavam a favela. No grupo, também havia os encarregados de atacar quem se opusesse à milícia. Controle do transporte alternativo, ‘gatonet’ e distribuição de gás e água eram outras funções.

Beltrame pronto para depor

O secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, se prontificou a prestar depoimento na Polícia Federal sobre o telefonema que deu ao delegado Allan Turnowski. Segundo o ex-chefe da Polícia Civil, a ligação comprovaria que ele não vazou informações sobre uma operação da PF ao inspetor Christiano Gaspar Fernandes, um dos presos na Guilhotina denunciados pelo MP:

“Se tiver que ser ouvido, serei. Falarei à autoridade que quiser, à instituição que quiser, sem problema nenhum, isso faz parte do processo. Não vejo problema nenhum em falar. A Polícia Federal é uma parceira nossa não só nessa questão”, afirmou o secretário.

Sobre o indiciamento de Turnowski por violar o sigilo funcional, Beltrame foi cauteloso: “É temerário tecer juízo de valor. Isso não tem que se comentar”.

O inquérito que indiciou o delegado já foi encaminhado para análise do Ministério Público.

Fonte: Extra e O Dia.

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