terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Milícias em Belo Horizonte, MG, praticam extorsões e assassinatos

Execução em favela mineira abre espaço para denúncias de extorsão e ligação de policiais com bandidos







Moradores saíram às ruas para protestar contra a abordagem policial: eles apontam a ação de milícias na região. 

Foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press



Belo Horizonte, MG, 22 de fev de 2011 - Um esquema de milícia tão bem articulado como os de morros violentos do Rio de Janeiro. Denúncias dão conta de que, por trás do assassinato de Jeferson Coelho da Silva, 17, e de Renilson Veriano da Silva, 29, na madrugada do sábado, há um megaesquema de policiais militares para cobrar propinas de traficantes em troca da livre atuação nos pontos de venda de drogas, no maior conjunto de favelas de Belo Horizonte, o Aglomerado da Serra. Extraoficialmente, nomes de dois policiais que não participaram da execução foram confirmados como suspeitos de envolvimento no esquema.

No dia seguinte ao fim de semana de conflito com a PM no aglomerado, moradores ´cansados dos abusos` detalharam ao Estado de Minas/Diario o suposto esquema envolvendo policiais do Batalhão de Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam) e do 22º Batalhão de Polícia Militar em matanças, agressões - inclusive com a possível existência de um grupo de extermínio - e tráfico e consumo de drogas. Eles teriam executado sumariamente Jeferson e Renilson ao confundi-los com traficantes. ´Os quatro policiais do Rotam foram ao local cobrar a 'caixinha' da semana. A cada semana, depois do pagamento de R$ 1 mil, os traficantes das 17 ou 18 bocas ficam livres para traficar. Tudo sob a proteção de PMs. Na sexta, a propina não foi paga, o que gerou revolta entre os militares`, relata o líder comunitário Paulo (nome fictício), que, com medo de retaliação, prefere não denunciar o esquema, instalado há um ano e meio. ´É falar e morrer`, diz.

Em entrevista ao EM/Diario, a primeira testemunha ocular a ser ouvida pela Polícia Civil no Departamento de Investigações de Homicídios e Proteção à Pessoa (DIHPP) confirmou que a história é bem diferente da relatada pelos militares. ´Depois do primeiro tiro, Jeferson estava vivo. Gemendo no chão, gritou: 'Mãe'`, relata Fabiana (nome fictício), que presenciou os fatos por 10 minutos da fresta da janela de casa. ´Um dos PMs lhe disse: 'Você quer sua mãe? Toma'. E disparou mais uma vez nele`, recorda. Ela foi ameaçada pelos PMs. Minutos depois, equipes da PM teriam chegado ao local para acobertar o caso. Um cabo do 22º Batalhão, identificado pelo apelido de ´Cabeça de Repolho`, reconheceu o erro cometido pela guarnição da Rotam e, segundo o líder comunitário Paulo, disse: ´Vocês fizeram a maior m# da vida. Desce com os corpos`, orientou.

Antes, segundo o denunciante, ´eles tiraram duas fardas de uma mochila na viatura e as usaram para incriminar as vítimas`. O tenente Clayton Santana, do Rotam, relatou à imprensa a versão que entre 15 e 20 homens, armados e fardados como PMs, teriam atirado nos militares e eles só revidado. O subcomandante do 22º Batalhão, major Luis Francisco Filho, responsável pela operação no Aglomerado, disse que o Rotam não estaria envolvido. Mas os militares teriam subido o morro pela parte de trás e ameaçaram: ´Quem abrir a boca vai morrer. Nós vamos matar mesmo`, diz Paulo.

A Corregedoria da Polícia Militar abriu inquérito para investigar o caso. O Ministério Público diz que é cedo para se pronunciar. O chefe do Comando de Policiamento Especializado, tenente-coronel Antônio Carvalho, confirmou o afastamento dos quatro militares da Rotam acusados da execução de Jeferson e Renilson, enquanto as denúncias são investigadas. ´A PM não quer encobrir nada e é preciso de se mostre isso à comunidade`, disse. O secretário de Estado da Defesa Social, Lafayette Andrada, confirmou o afastamento, mas manteve a versão dos policiais. Ele desacreditou a possibilidade de os PMs cobrarem propina. O governador Antonio Anastasia determinou apuração rigorosa do caso.

Fonte: O Estado de Minas

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