quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Políticos e Milicias na grilagem de terra no Recreio e Vargem Grande

Delegacia do Recreio assume combate aos loteamentos irregulares


Estelionato, crimes ambientais e parcelamento ilegal do solo. Dados da 42ª DP (Recreio) comprovam o que já se sabia: há décadas, o bairro sofre com a existência de quadrilhas de grileiros que usam os mais diversos artifícios para vender lotes ilegais, principalmente na área de Vargem Grande. Com a inauguração da delegacia, em abril, a investigação policial, realizada com a ajuda da 16ª DP (Barra), ganhou mais força com a instalação de uma inspetoria específica para investigar este tipo de crime. O primeiro resultado saiu esta semana, com a conclusão do inquérito contra Marcos Antônio Amuí dos Santos, proprietário do condomínio Vivendas em Sossego.

O loteamento apontado como irregular pela 42ª DP fica na Rua Paulo José Mahfud, entre os rios Cancela e Calembá. Santos foi indiciado por diversos crimes, entre eles estelionato, construção em solo não edificável, parcelamento do solo urbano e crime ambiental. O caso será levado ao Ministério Público estadual (MPE) e pode resultar em sua prisão. O condomínio começou a ser construído em 1994, mas já sofreu embargos da Secretaria municipal de Urbanismo. Mesmo assim, imóveis ainda são vendidos no local.

Segundo a inspetoria da 42ª DP, geralmente os grileiros se aproveitam da existência de um posseiro dentro de uma área pertencente a outra pessoa. Eles fazem um acordo com o invasor para que entre com um processo de usucapião na Justiça. Se este obtém a posse do terreno, recebe como recompensa um dos lotes nos quais a área é desmembrada pelo grileiro. Mas, como mostram informações da delegacia, também pode ser expulso do local — ou até assassinado.

O delegado titular da Delegacia de Repressão a Ações Criminosas Organizadas (DRACO), Cláudio Ferraz, também investiga casos de loteamentos irregulares na região e diz que em boa parte deles há políticos envolvidos, o que ajuda a dar uma aparência de legalidade ao crime:

— Tem sempre um de plantão. Após vários imóveis serem vendidos irregularmente, eles colocam todas aquelas famílias na frente das ações da Justiça, como um escudo humano.

“Comprei um lote em 2002 em um condomínio de Vargem Grande. Queria morar neste bairro que é tão rico em natureza. Era a ilusão de uma vida tranquila. Até que um dia, em 2004, acordei e me deparei com diversos policiais dentro do meu condomínio, dizendo que todos teriam que sair. Foi um desespero. Meu marido infartou e foi internado. Nunca conseguiu se recuperar, tendo morrido alguns anos depois. Comecei, então, a investigar e descobri que a área tinha sido invadida e estava no nome de laranjas. Um deles chegou a ser assassinado. Quando comecei a denunciar estes problemas, recebi telefonemas que me ameaçavam de morte. Então, aluguei o imóvel e fugi. Hoje moro fora da cidade. Tive que parar de trabalhar. Ainda tenho muito medo. Minha vida foi destruída por essa gente.”

X., vítima do golpe do loteamento ilegal

Fonte O Globo