domingo, 17 de maio de 2009

O LUCRO DA MILÍCIA





Anotações mostram cobrança de taxas na Zona Oeste e Baixada









Rio, 17 DE MAIO DE 2009 - O lucrativo e organizado esquema de cobrança de taxas pela milícia a motoristas de vans e Kombis do transporte alternativo na Zona Oeste foi detalhado a investigadores da Missão Suporte em algumas folhas da contabilidade da quadrilha, apreendida na casa do ex-policial militar Ricardo Teixeira Cruz, o Batman. Preso na noite de quarta-feira, em Paciência, o miliciano da Liga da Justiça enumerou em suas anotações 50 linhas que controlava: 49 na Zona Oeste e uma em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.



A propina era cobrada às linhas diariamente pelos arrecadadores do bando. Somados, os valores das taxas que permitem a circulação dos veículos na região chegam a R$ 74.415 por semana ou quase R$ 300 mil mensais. Algumas linhas de grande movimento, no entanto, só desembolsavam quantias que variam entre R$ 1,5 mil e R$ 3 mil às sextas-feiras. Casos das que cumprem itinerários que passam pelas localidades de Palmares, Vale Verde, Urucânia e São Vitor.





Os papéis revelam que Batman controlava, por exemplo, dois pontos na Praça 7 de Abril, em Paciência. Os veículos da linha que vai para Santa Cruz pagavam R$ 1.725 semanais. Os para Campo Grande, R$ 500.



Curiosamente, foi nessa praça que um homem foi morto a tiros menos de 24 horas após a prisão de Batman.


Os números são referentes à primeira semana deste mês. E comprovam o que as investigações da Polícia Civil já indicavam em relação à expulsão do tráfico de algumas comunidades da Zona Oeste, como as favela da Carobinha e do Vilar Carioca. Na primeira a arrecadação foi de R$ 1,8 mil; na outra, de R$ 2,1 mil.


O nome Caxias aparece uma única vez na contabilidade, com um pagamento de R$ 1 mil feito em uma sexta-feira. Cálculos dos investigadores indicam lucros de R$ 2 milhões mensais. Por isso tentam decifrar os números que constam nas anotações. E dinheiro parece não faltar à milícia. Além das propinas pagas a policiais corruptos — 78 nomes estão em outra lista apreendida —, os gastos são impressionantes. Numa planilha encontrada pela polícia, aparecem despesas até com a compra de GPS para carros, no valor de R$ 8.737,95.


Batman, no entanto, nem sempre se mostrava organizado. Apesar de desembolsar R$ 1.727,29 mensais com contas de Nextel, ele sequer sabia com quem os aparelhos estavam. Por isso, na planilha ele deixa um recado para saber ao certo quantos têm e com quem estão cada um deles.


Sargento preso por ataque a DPO é rival do miliciano


Investigações da 71ª DP (Itaboraí) apontam que o sargento do 33º BPM (Angra dos Reis) Sérgio Ricardo Souza de Lima, seria o mesmo De Lima que é apontado por Batman como seu rival. O sargento foi preso sexta-feira à noite, acusado de participar do ataque ao Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO) de Sambaetiba, em março, que matou um PM e feriu outro.

“Após a prisão do Batman, este foi o primeiro passo para desarticular outros grupos de milicianos. O foco é impedir que a milícia se instale em outros locais”, afirmou o delegado Luiz Antônio Ricardo.

O objetivo da operação em Itaboraí era prender Alexandre da Silva Nascimento, o Popeye, chefe da milícia da Carobinha, em Campo Grande. Popeye escapou, mas 10 pessoas foram detidas, das quais cinco responderão por formação de quadrilha e tráfico de armas. “Popeye é um dos principais integrantes da milícia do Chico Bala (o ex-PM Francisco César de Oliveira, rival de Batman). Ele é o mentor do ataque ao DPO”, revela Luiz.



Fuga de Bangu 8: sem provas contra agentes


Sete meses depois de Batman sair de Bangu 8 pela porta da frente, as investigações seguem sem provas do possível envolvimento de 10 agentes penitenciários. Há informações de que a fuga teria custado R$ 2 milhões.


Apesar de a polícia ter pedido à Justiça em novembro a prisão dos servidores suspeitos, eles continuam trabalhando, mas em setores administrativos, fora de presídios. O inquérito está no Ministério Público, que se limitou a dizer que continua as investigações.



Sindicância da Secretaria de Administração Penitenciária concluiu que houve negligência grave por parte dos agentes e foi aberto procedimento administrativo disciplinar, que pode levar à expulsão dos 10.



De Leslie Leitão e Vânia Cunha


Fonte O Dia


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