sábado, 30 de maio de 2009

FABRICIO FERNANDES MIRRA, EX-PM, TEM PISTOLA E COMANDA MILÍCIA DE DENTRO DA PRISÃO


Ex-PM que comanda milícia tinha arma na prisão







e dizia pagar propina a comandante



RIO, 30 de maio de 2009 - Instalada na galeria E1, no terceiro andar do Batalhão Especial Prisional (BEP), em Benfica - onde ficam presos PMs que respondem a inquérito -, a academia de ginástica foi o local escolhido pelo soldado Fabrício Fernandes Mirra, de 33 anos, para exercitar a truculência que o tornou chefe da milícia que atua em 23 comunidades do Rio. Armado com uma pistola cromada, ele deu uma coronhada no rosto do soldado Felipe Wenderroscky de Souza, em 27 de setembro passado. Em meio ao tumulto, Mirra ainda teria ameaçado matar o soldado, segundo depoimento de três testemunhas, dizendo que pagava R$ 5 mil ao comandante do batalhão prisional para andar armado.


A confusão envolvendo o miliciano - que, mesmo cumprindo pena por homicídio, chefiava a maior e mais violenta milícia do Rio, - desarticulada quinta-feira com a prisão de 15 integrantes - começou às 23h30m, quando Mirra, acompanhado por outro PM preso, se exercitava na sala de musculação e passou a bater com uma anilha de 20 quilos na parede. O barulho chamou a atenção de Felipe, que jogava baralho com outros três PMs, todos presos. Ao chegar à academia, ele perguntou o que estava acontecendo e foi surpreendido por Mirra, que sacou uma pistola e o atingiu no rosto: - Em seguida, o soldado Mirra enrolou a pistola na camisa e falou que pagava propina ao coronel comandante do BEP e que o batalhão seguia suas normas - afirmou Felipe.



Rastro de assassinatos da milícia sob investigação


Assassinatos e coação a testemunhas para mentir em delegacias sobre crimes eram marcas registradas da milícia chefiada pelo ex-PM Fabrício Fernandes Mirra, preso ano passado, que foi desarticulada quinta-feira pela Polícia Civil. É o que revela relatório da investigação da Operação Leviatã 2, que prendeu 15 pessoas ligadas à quadrilha durante a ação. A apuração dos agentes da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE) lista pelo menos 15 homicídios cometidos pelo bando, apontado como o maior e mais violento do Rio.


Em março do ano passado, por exemplo, José Alexandre Silva Eugênio foi agredido dentro de casa por Mirra, em Pinheiral, no Sul Fluminense. Sete dias depois, morreu em virtude dos ferimentos. O bando conseguiu identificar uma das testemunhas. Gravações telefônicas autorizadas pela Justiça flagraram Mirra e o ex-PM Marcos Gregório Siqueira da Silva, o Zero, foragido, tramando para que o depoimento da testemunha fosse mudado na 101ª DP (Pinheiral). Na conversa, Zero diz que a testemunha ‘poderia escorregar e morrer’.


Em 2006, uma das testemunhas do assassinato de Cléber Vasconcelos Pinho, morto em Marechal Hermes, teve que mentir na Justiça para não ser morta pelos paramilitares. O caso foi registrado na 30ª DP (Marechal Hermes), mas a investigação foi transferida para a Delegacia de Homicídios pelo então chefe da Polícia Civil, delegado Álvaro Lins. De acordo com um dossiê encaminhado à Corregedoria Geral Unificada (CGU), Mirra teria pago para se livrar da investigação.


Um dos crimes mais violentos praticados pela quadrilha foi no Morro do Dezoito, em Quintino, em novembro. Uma mulher foi sequestrada, estuprada, torturada, esquartejada e depois queimada. Eles ainda quebraram os dentes da vítima para impedir que ela fosse reconhecida pela arcada dentária. A sentença de morte foi dada após o grupo desconfiar que a vítima seria informante da facção criminosa Amigos dos Amigos (ADA).


Dezoito integrantes da milícia continuam foragidos da Justiça, entre eles três ex-PMs. “Estamos trabalhando na identificação de outros membros e na análise de documentos”, afirmou o delegado-titular da Draco-IE, Cláudio Ferraz. A quadrilha controla 23 comunidades no Rio e na Baixada.



Advogado lotado em gabinete da Alerj


Apontado pela polícia como o principal ‘braço jurídico’ da quadrilha do ex-PM Fabrício Fernandes Mirra, o advogado Marcelo Bianchini Penna, preso quinta-feira, estava lotado no gabinete do deputado estadual Domingos Brazão (PMDB). “Na CPI das Milícias, muitas pessoas revelaram que ele defendia os invasores de terras. Para mim, ele era o braço do Brazão na milícia”, disparou a deputada Cidinha Campos (PDT), que fez parte da comissão.


A deputada informou que vai enviar na semana que vem relatório sobre o envolvimento de Bianchini com a milícia à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ). Procurado por O DIA por meio de sua assessoria de imprensa, o deputado Domingos Brazão não se pronunciou sobre o assunto.


Segundo as investigações da Draco, Bianchini era usado pela quadrilha para orientar testemunhas ameaçadas pelo bando a mudar seus depoimentos nas delegacias.


Outro preso na operação foi o PM Marcelo Pereira Maningette Paulo, o Marcelo Pitbull, que trabalhava como motorista do comandante do 3º BPM (Méier). Durante as investigações, os agentes descobriram que uma das áreas dominadas pela milícia era o Parque Esperanças, conjunto com 23 prédios em Anchieta.



Fonte: O Globo e O Dia





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