terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

MILÍCIAS DECLARAM GUERRA ENTRE SI


Milícias declaram guerra


Bombeiro e agente aposentado do Desipe são executados na Zona Oeste e polícia teme matança


Rio - As execuções de um bombeiro e de um agente aposentado do Desipe, ambos suspeitos de envolvimento com milicianos, são, para a polícia, um sinal claro de que grupos paramilitares da Zona Oeste estão em guerra. Na manhã de ontem, o terceiro-sargento Carlos Alexandre Silva Cavalcante, o Gaguinho, foi assassinado em Jacarepaguá. Horas depois, a baixa foi no grupo rival: o agente aposentado Wagner Rezende de Miranda, o Waguinho Desipe, foi morto em Campo Grande. A polícia trabalha com a hipótese de que a emboscada seja represália à morte de Gaguinho e teme mais assassinatos.


EXCLUSIVO: TV O DIA: Imagens do flagrante da guerra entre grupos rivais


TV O DIA: Imagens mostram informantes empunhando fuzis


Gaguinho respondia a dois inquéritos por envolvimento com a milícia Liga da Justiça, da qual fariam parte o ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho e o ex-deputado estadual Natalino Guimarães. Gaguinho foi indiciado pela CPI das Milícias da Alerj. O bombeiro foi assassinado na Estrada do Gabinal, em Jacarepaguá, no posto de gasolina ao lado de casa.

Gaguinho tinha acabado de abrir a porta de seu Palio branco quando foi cercado por três homens encapuzados. Outro bandido, também de capuz, dirigia o Siena prata usado na fuga.

Os criminosos estavam armados e Gaguinho, que colaborou com a Polícia Civil em investigações sobre a milícia, levou muitos tiros, principalmente na cabeça. De casa, a mulher do bombeiro ouviu os tiros e chegou ao posto de gasolina aos gritos: “Foi o Batman!”, apelido de Ricardo Teixeira Cruz, apontado como matador da Liga da Justiça, que fugiu de Bangu 8, em outubro. Dois filhos de Gaguinho, de 9 e 12 anos, viram o pai desfigurado.

Peritos recolheram 28 cápsulas, 19 delas de fuzil 7.62, cinco de fuzil AK-47 e quatro de pistola calibre 380. Hoje, uma perícia complementar será feita no Palio. Gaguinho estava lotado na Odontoclínica do Corpo de Bombeiros e, segundo parentes, iria para o trabalho. Há suspeitas de que os atiradores tenham roubado a arma do militar.

“Pedimos informações oficiais à Secretaria de Segurança e à Chefia da Polícia Civil sobre a participação da vítima no inquérito que levou à prisão os líderes da Liga da Justiça. Se for deste jeito mesmo, o envolvimento da milícia é uma forte linha de investigação. Gaguinho nem teve chance de reagir”, afirmou o delegado Pablo Sartori, da 41ª DP (Tanque).

Câmeras do posto mostram apenas quando um funcionário se assusta com os tiros e corre para se esconder. O carro e os atiradores ficaram em um ponto cego. O delegado acredita que os assassinos ‘estudaram’ o local. À tarde, policiais da Delegacia de Roubos e Furtos de Autos apreenderam em Maricá um Siena com as características do que foi usado no crime.


Flagrado com fuzil da polícia

Autorizado pela cúpula da Segurança Pública a atuar como informante da equipe do delegado Marcus Neves, Gaguinho foi flagrado em vídeo, divulgado com exclusividade por O DIA, em dezembro, ao lado do ex-policial militar Herbert Canijo da Silva, o Escangalhado, portando um fuzil e usando uma camiseta da Polícia Civil em uma lanchonete de Campo Grande, ao lado de policiais da Polinter. Uma semana antes, Gaguinho chegou a ser detido em frente à Polinter, armado, dentro de uma viatura.

O bombeiro tinha passagem por formação de quadrilha e estelionato e era investigado pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas e Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE) por envolvimento com a milícia.

Gaguinho também estava na lista de indiciados pela CPI das Milícias. Por conta das suspeitas, ele foi afastado do Tribunal de Contas do Município (TCM), onde trabalhou até julho. O bombeiro seria homem de confiança do sargento PM Francisco César Silva Oliveira, o Chico Bala, que presta serviços para a equipe de Marcus Neves e responde ao Conselho de Disciplina por atuar sem autorização da corporação.



Vídeo mostra tentativa de execução

A guerra entre milícias rivais explodiu ontem com a morte de dois investigados por participação nesses grupos, mas a disputa e os confrontos vêm ocorrendo há pelo menos um mês — 30 dias após a fuga do ex-PM Ricardo Teixeira Cruz, o Batman, integrante da Liga da Justiça, do presídio de Bangu 8 . No vídeo divulgado ontem com exclusividade por O DIA, milicianos aparecem atirando contra um morador da Favela do Barbante, em Inhoaíba, quando tentavam matar um homem que denunciou o grupo rival à Liga da Justiça.

Ao tomar conhecimento do vídeo, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, determinou rigor nas investigações. “Assim que soube desse fato, pelo jornal, determinei imediatamente a análise dessas imagens e a identificação desses bandidos. Assim que tivermos informações concretas, faremos uma ofensiva não só nesta comunidade como em outras onde o Estado está atuando para acabar com o poder desses grupos de milícias. Vamos agir, mas temos que aguardar as investigações”, disse.

A Polícia Militar determinou ontem que sejam feitas ações preventivas e repressivas na Favela do Barbante para evitar novas investidas de milicianos.


MORTE SERIA VINGANÇA

O agente penitenciário aposentado Wagner Rezende de Miranda, o Waguinho Desipe, 52 anos, foi morto ontem à tarde com pelo menos seis tiros de pistola calibre 45 a 50 metros de sua casa, em Campo Grande, na Zona Oeste. A maior parte dos disparos acertou o rosto do ex-agente, o que, segundo a polícia, demonstra que o atirador tinha raiva da vítima.

Ele estava com o sobrinho Rafael de Miranda Fernandes, 28, quando foi atacado. O rapaz foi baleado de raspão no braço direito. Waguinho Desipe foi emboscado por três homens que estavam em um Siena prata — mesmo modelo e cor do carro usado no assassinato do terceiro-sargento bombeiro Carlos Alexandre Silva Cavalcante, o Gaguinho, ontem de manhã, em Jacarepaguá. A execução do agente ocorreu por volta das 13h, quatro horas e meia após a morte do bombeiro.

De acordo com o delegado da 35ª DP (Campo Grande), Júlio da Silva Filho, a principal linha de investigação é a de que os crimes estejam ligados à guerra entre milícias rivais na Zona Oeste. Uma das hipóteses é a de que integrantes da Liga da Justiça tenham matado Gaguinho — que faria parte de um outro grupo paramilitar — e seus comparsas, então, executaram Waguinho, como vingança.

No entanto, a utilização de carros do mesmo modelo e marca chama a atenção dos agentes para a possibilidade de os crimes terem sido praticados por um mesmo grupo. “Vamos investigar todas as possibilidades. Ainda não dá para afirmar nada. Vou trocar informações com o delegado da 41ª DP (Tanque) para chegarmos aos autores dos homicídios”, afirmou Júlio da Silva Filho.

Waguinho estava na Rua dos Dentistas, no Condomínio Village do Tingui, em frente à casa do sobrinho quando os bandidos chegaram atirando. Waguinho ainda tentou fugir, mas foi alcançado por um dos criminosos e morto. Já Rafael conseguiu pular um muro e se esconder em um terreno baldio. O trio não se preocupou em esconder o rosto, mas Rafael diz não ter condições de identificar os atiradores.

Em sinal de luto, vans e kombis começaram a circular pela Zona Oeste com um adesivo em forma de uma cruz negra na parte dianteira. Só não se sabe ainda se o luto é pela morte de Gaguinho ou de Waguinho Desipe.

Fonte O dia

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