segunda-feira, 16 de junho de 2008

DE VOLTA AO PASSADO














Confronto após assassinatos


Corpos de três rapazes da Providência encontrados em lixão

Onze militares têm prisão decretada




Rio - Os corpos dos jovens Marcos Paulo da Silva, 17 anos, Wellington Gonzaga Costa, 19, e David Wilson Florença da Silva, 24, foram encontrados ontem no lixão de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias. Moradores do Morro da Providência acusam soldados do Exército de serem os responsáveis pelo seqüestro das vítimas e “venda” a traficantes do Morro da Mineira, no Catumbi. O Comando Militar do Leste (CML), em nota oficial, informou que abriu Inquérito Policial Militar para apurar o caso. Após solicitação da Polícia Civil, Justiça decretou a prisão temporária, por 30 dias, de sete soldados, três sargentos e um oficial. Todos estão presos administrativamente.

Os rapazes desapareceram, às 7h30 de sábado, na Providência, no Centro do Rio, após serem abordados por militares quando voltavam de baile funk. Segundo parentes, eles ficaram em poder do Exército até 11h30. Ontem foi mais um dia de confronto entre moradores e soldados do Exército. Os momentos de maior tensão aconteceram à tarde, no Largo de Santo Cristo. Cerca de 150 manifestantes tentaram invadir o quartel, mas foram impedidos pela tropa de choque do Exército. Eles jogaram garrafas plásticas nos militares, que revidaram com bombas de efeito moral.

“Queremos os soldados assassinos fora da comunidade”, gritavam. Assustados, motoristas voltaram pela contramão. Um supermercado fechou, temendo quebra-quebra. A PM cercou o local, na tentativa de dissipar o tumulto, que durou uma hora.


MÃE DESMAIOU

Mãe de Wellington, Lilian Gonzaga, 42, desmaiou no Largo de Santo Cristo. “Nem com cachorro podem fazer isso”. Lilian contou que viu o filho pela última vez deitado no chão do quartel. “Ele foi prestar depoimento a um comandante da tropa. Do portão, eu gritava que meu filho era inocente”.

Uma testemunha contou que conseguiu salvar um outro rapaz da revista. Segundo ela, os garotos foram agredidos pelos soldados. “Foram encostados no muro da minha casa, com armas apontadas para a cabeça. Enquanto gritavam que eram inocentes, foram agredidos. Pedi para liberarem eles e também apanhei”, relatou.

X., 19 anos, relembrou como escapou da morte. “Bateram com o fuzil na minha barriga, mas, graças a Deus, a vizinha me puxou para a casa dela. Ouvi tiros e levaram os meninos no jipe”, disse, afirmando que pode reconhecer os três militares mais agressivos.

O CML informou também que os rapazes foram detidos porque teriam desacatado os soldados, mas afirmou que o comandante da tropa determinou que os três fossem liberados depois de ouvidos. À noite, o delegado Ricardo Domingues, da 4ª DP (Central), afirmou ter contado com o apoio dos militares, e o crime será julgado na Justiça comum. Um tenente, ouvido pela polícia, informou que os rapazes teriam sido entregues ao tráfico como forma de corretivo.

Na versão dos moradores,quando os rapazes chegaram à Mineira, morro dominado por facção rival à da Providência, teriam gritado que poderiam ser mortos por traficantes. Eles teriam tentado escapar, mas foram espancados pelos soldados.

Há denúncias de que as vítimas teriam sido vendidas por R$ 60 mil a bandidos, que as executaram. Os corpos foram jogados numa caçamba de lixo da Rua São Roberto, no Morro do São Carlos, no Estácio, da mesma quadrilha de traficantes da Mineira.Sem saber que havia corpos, garis da Comlurb recolheram o material e despejaram no aterro sanitário de Caxias. David e Wellington estavam com documento de identidade.


Morro está ocupado pelo Exército

Desde dezembro, a cor predominante no Morro da Providência, no Centro, é o verde-oliva. Para dar segurança ao projeto Cimento Social, do senador Marcelo Crivella (PRB) e do Ministério das Cidades, que prevê a reforma de 780 casas, 200 homens do Exército ocuparam a comunidade, com o apoio de 200 policiais militares. Para isso, estão sendo investidos R$ 12 milhões.

As obras ficaram a cargo da Comissão Regional de Obras da 1ª Região Militar e do Batalhão Escola de Engenharia. Na época, o Comando Militar do Leste informou que a 9ª Brigada de Infantaria Motorizada do Grupamento de Unidades Escola seria a responsável pela segurança dos trabalhadores.

Além dos confrontos com a comunidade em função do desaparecimento dos três jovens, o projeto foi colocado em xeque. Ainda em dezembro, moradores queriam o embargo das obras. As principais reclamações eram de que as residências estariam apenas em locais de visibilidade para o projeto e os beneficiários seriam ligados à igreja do senador Crivella.


Fonte O Dia

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