sexta-feira, 2 de novembro de 2007

DE FLORES E FUZIS NA (IN)SEGURANÇA PÚBLICA DO RIO DE JANEIRO...


Estudiosos e agentes de segurança debatem a eficácia da tática policial do confronto contra o tráfico em favelas.


A política de confrontos adotada pela polícia nas favelas cariocas, e que geralmente resulta em mortos e feridos, é a mais adequada? Na opinião da pesquisadora do Centro de Estudos de Cidadania e Segurança (Cesec) Silvia Ramos, não. Para ela, a cultura do confronto vem colocando o Estado do Rio em um buraco sem fundo.
- A mensagem que o governo do estado vem passando é que não se importa com os mortos em uma operação policial, desde que sejam bandidos. A gente tem a sensação de que o policial vai para o confronto pensando que tem o aval para matar traficantes à vontade. Isso é muito perigoso.
Na quarta-feira, em operação na Favela do Fumacê, em Realengo, a Polícia Civil matou o traficante conhecido como Thiaguinho e mais dois comparsas . Em outra ação, no mesmo dia, o Batalhão de Operações Especiais da PM, o Bope, entrou na Rocinha: um homem ficou ferido por bala perdida e 2.400 alunos perderam aula na escola . E na Favela de Vigário Geral dois homens morreram em tiroteio . No mesmo mês de outubro, a chamada Guerra da Coréia deixou 13 mortos : um menino de quatro anos, um policial e 11 traficantes.
- O que vai ocorrer no futuro próximo? Voltar à Favela da Coréia e matar mais dez? O que isso colabora para o fim da violência, para o combate ao tráfico? - questiona a pesquisadora do Cesec.

Inteligência ou força?
O chefe do Departamento das Delegacias Especializadas do Rio, Allan Turnowski, rebate as críticas ao trabalho policial.
- As pessoas ainda não entenderam que o fato de haver muitos mortos em uma operação não significa ausência de inteligência. Significa, sim, que os bandidos não se renderam e agiram, antes de nós, com violência - argumenta o delegado. Eu convido os críticos ferrenhos da polícia a acompanhar os três meses de trabalho de inteligência que antecedem todas as operações que fazemos.
Dias após o confronto na Favela da Coréia, em Senador Camará, organizações não-governamentais de defesa dos Direitos Humanos e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) vieram a público condenar o que chamaram de truculência policial. Elas responsabilizam o governador Sérgio Cabral e o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, pelo aumento significativo do número de mortes em confrontos com a polícia, conforme revelou o ISP . Em resposta, o governador afirmou que não há dicotomia entre direitos humanos e ordem pública.
Para o diretor do Núcleo de Estudos da UFF, Ronaldo Leão, não há outra forma de se combater o crime no Rio senão a do confronto"
-"Os marginais querem é vender cocaína e, lateralmente, praticar assaltos; e a sociedade quer impedi-los. Só que não dá para fazer seminário para eles entregaram as armas, como disse o governador. Se você vai ser preso por tráfico, homicídio ou seqüestro e reage dando uma rajada de metralhadora, você quer ser recebido com orquídeas? - compara.
Sílvia Ramos destaca que esse tipo de política gera excessos. E conta já ter ouvido histórias de quem já foi vítima de abuso de autoridade e alvo de violência gratuita por parte de policiais:
- Ainda hoje, não são poucos os casos em que a polícia entra na favela dando tapa na cara e invadindo casas de moradores que não têm qualquer ligação com o tráfico. Esse cidadão tem medo, pavor de polícia. Ele sabe que nos dias de operação na favela ele pode, mais uma vez, ser agredido.
Leão reafirma que a polícia age com a tática certa:
- A polícia seria arbitrária se usasse armas de destruição em massa na favela e não ligasse para a morte de inocentes, o que não acontece - opina.

" A gente tem a sensação de que o policial vai para o confronto pensando que tem o aval para matar traficantes à vontade. Isso é muito perigoso "
" Se você vai ser preso e reage dando uma rajada de metralhadora, quer ser recebido com orquídeas? "

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