domingo, 27 de maio de 2007

LIMPEZA NESCESSÁRIA NA POLÍCIA MILITAR DO RIO


NA MAIOR OFENSIVA JÁ FEITA CONTRA A CORRUPÇÃO POLICIAL, PF PRENDE 78 HOMENS



Na maior ofensiva já feita contra a corrupção nas forças de segurança do Rio, Federal prende 78 homens: 77 da PM e um da Polícia Civil. Acusados são ligados ao tráfico ou a caça-níqueis.

Em duas grandes operações coordenadas pela Polícia Federal (PF), 78 policiais — sendo 77 militares — foram presos nesta sexta-feira. De manhã, a ação foi contra PMs acusados de envolvimento com traficantes de drogas. À tarde, os alvos foram agentes ligados à máfia dos caça-níqueis. A PF pediu a prisão do ex-chefe de Polícia Civil Álvaro Lins por lavagem de dinheiro do jogo em sua campanha eleitoral, mas Justiça não concedeu detenção.

O comandante do 14º BPM (Bangu), coronel Celso Nogueira, afastado do cargo de manhã pelo envolvimento de policiais do batalhão com traficantes da Favela do Muquiço, Guadalupe, acabou preso à tarde na operação de combate à máfia da jogatina. Ele é acusado de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Com o oficial, foi detido um soldado. Um policial civil também foi capturado.

A investida da PF incluiu ainda o ‘estouro’ da sede da Adult Fifty Games (Ivegê - Indústria de Vídeo Games), empresa de máquinas de caça-níqueis do bicheiro Fernando Iggnácio, na Rua Fonseca, Bangu. No local, funcionava a antiga fortaleza do ‘capo’ Castor de Andrade.


INTELIGÊNCIA

As ações foram resultado direto das investigações realizadas pelo núcleo de inteligência da Polícia Federal, coordenado até mês passado pelo futuro secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame.

A primeira operação, denominada Tingüi — em função do rio que corta a Favela do Muquiço —, foi deflagrada no início da manhã, quando outros 75 PMs foram presos sob acusação de negociar armas, munição e drogas com bandidos do Muquiço. Do total de acusados, 40 são do 14º BPM — entre eles um tenente —, 26 do 9º BPM (Rocha Miranda), oito do Grupamento Especial Tático-Móvel (Getam), um do 3º BPM (Méier) e um do 4º BPM (São Cristóvão).

Cerca de 380 agentes federais e 330 homens da Corregedoria da PM foram encarregados de deter os policiais. Assim que chegaram aos batalhões, os acusados foram revistados, entregaram fardas e armas e tiveram armários vistoriados. A Justiça determinou que as casas dos PMs fossem averiguadas.

Segundo o superintendente da PF, Delci Teixeira, a investigação começou há oito meses, após descoberta de angolanos, suspeitos de ensinar técnicas de guerrilha e manuseio de armas a bandidos da facção Amigos dos Amigos (ADA) no Muquiço. Considerada extensão dos pontos de venda de drogas do Complexo da Maré, a favela é disputada com quadrilha de Acari, ligada ao Terceiro Comando Puro (TCP).

Após escutas telefônicas flagrarem a ligação dos policiais, a PF pediu ajuda à Corregedoria da PM para tentar indentificar o grupo. Durante as investigações, os PMs também foram filmados. Todos ficaram no Batalhão Especial Prisional (BEP) por pelo menos 30 dias.


Acusados que chegavam ou saíam tinham que tirar fardas e entregar armas. Seus carros e armários eram revistados.


Rio - O quartel com o maior número de ‘baixas’ foi o 14º BPM (Bangu), onde, a partir das 9h de sexta-feira, os 40 acusados foram sendo presos, um a um, quando chegavam para trabalhar ou deixavam o plantão noturno. Os homens da Corregedoria da PM foram à unidade acompanhados pelo comandante-geral da corporação, coronel Hudson de Aguiar. Os 39 praças e um tenente são acusados de vender armas apreendidas com bandidos em operações para outros traficantes.

Cerca de 330 militares, divididos em 80 viaturas, participaram da operação, realizada nos cinco batalhões a partir de informações levantadas pela Inteligência da Polícia Federal. Na unidade de Bangu, as equipes tinham em mãos fotos e identidades dos acusados, que foram sendo reconhecidos, alguns ainda no caminho para o trabalho. Resignados, os militares saíam de seus carros sem questionar a ação.

Eles não foram algemados, mas muitos tentaram esconder o rosto da imprensa, usando bonés e entrando rapidamente nos carros descaracterizados, usados para transporte dos presos. Antes de seguir para a sede da Federal, na Praça Mauá, porém, os presos tiveram que entregar suas armas, documentos e até fardas, colocadas em sacos plásticos.

Um cabo e um sargento chegaram a tirar o uniforme na rua do batalhão. A escolta também revistou armários e carros dos policiais, estacionados próximos à unidade. Os mandados de busca e apreensão também foram cumpridos nas casas deles, onde a polícia procurou documentos e materiais que comprovassem a ligação com o tráfico.

Após triagem na Praça Mauá, onde prestaram depoimento, os PMs foram encaminhados ao Batalhão Especial Prisional, em Benfica. Na hora das prisões, ninguém quis falar sobre o caso, nem mesmo o comandante do batalhão, coronel Celso Nogueira — que, horas depois, foi preso pela Federal por envolvimento com outra máfia, a dos caça-níqueis. Ainda de manhã, ele havia sido exonerado por Hudson, como punição pelo fato de seus 40 subordinados estarem ligados ao tráfico.

A unidade tem 600 policiais. Há dois meses, a Corregedoria da PM levantava a identificação dos acusados, a partir de informações passadas pela Federal. Segundo Hudson, a Justiça determinou que a PM ficasse responsável pelas prisões. "Estamos separando o joio do trigo. Vamos expurgar do seio da corporação quem não honra o trabalho e a farda", disse, justificando ainda que a criação da 4ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar, em Realengo, para investigação de policiais, se deu pelo fato de a "Zona Oeste ser um problema". Curiosos pararam para ver a movimentação dos carros em frente à unidade de Bangu.



NEGOCIAÇÕES PELO TELEFONE: ‘TÔ COM A METRALHADORA QUE FALEI’

Em conversas gravadas pela PF, PMs são flagrados negociando metralhadora ponto 30, pistolas e propinas. PM chega a oferecer 100 kg de maconha a traficante, que até se assusta com a carga.

PM: Então, dei o papo daquela balinha (munição), aquele produto que seguiu e da 30. Dei o papo da 30.

Bandido: Era pra ter desenrolado hoje lá no QG, tá ligado? Qual fundamento dela?

PM: Se liga, não é esteira não, é carregador...

Bandido: É militar, qual foi?

PM: Negativo. Isso aí vai ter que ver pessoalmente.

Bandido: Já é. Quantos carregadores, sabe não?

PM: Tá com um só.

PM: Olha só, tô com o do 9 (pistola 9 mm), quer?

Bandido: Liga daqui a 3 minutos. Quanto você quer?

PM: Cinco conto (R$ 5 mil) nas duas. Zerado. Carregador de 25 tiros.

PM: Roupa dos de preto...

Bandido: Tudo de preto?

PM: Mas faz o seguinte, vamos desenrolar esse negócio pessoalmente à noite...

Bandido: Boina e tudo?

PM: O que você falar que é a gente pede, filho.

Bandido: É tudo completo, preto, tudo?

PM: Eu vou aí à noite, que não dá para ficar falando essas coisas por telefone.

PM: Tô com a metralhadorazinha que eu te falei.

Bandido: Correto, mas quanto, R$ 3.500?

PM: Pô, não dá não. O amigo tá querendo 4 e meio. Eu chorei pra quatro.

Bandido: Ah, tranqüilo, mas tá muito puxado pra mim, tá muito puxado. Oh, mas R$ 3.500 já é!

PM: Se liga só...

Bandido: Ah, tu sabe que eu sou maior sintonia do c.. Tu vem na sintonia comigo há maior tempão. Quantas armas tu já vendeu pra mim no bagulho, entendeu?! Na época do Jorge Turco, lá, porra. Era uma, duas por semana que tu trazia pra mim...

PM: Pois é, meu cumpádi.

Bandido: Sempre foi camarada, agora tu tá nessa.

PM: Não tô não. É que o bagulho não é só meu. Quero te adiantar p., tu sabe que eu sempre fui de te adiantar. Só que, pô, a parada não é só minha. É 10 cabeça que tá na situação, mano. Eu tenho que ouvir 10 cabeças falar: "Aceito". "Não, não aceito". Vamos fazer o seguinte, a minha é de te adiantar. Bota mais uma quina aí (R$ 500).

Bandido: Ah, tu quer R$ 350 no quilo, né?!

PM: Tô com 100 quilos.

Bandido: 100 quilos, maluco?! C., esculachou!

PM: Olha só. Tô com informação pra c. daí, não quero nem ir aí...

Bandido: Ih, pelo amor de Deus, hein?!

Bandido: Aí fica como? Fica em R$ 1.000, né?!

PM: R$ 1.000 nosso e dos F2, os homens de preto que trabalham com a gente.

Bandido: Do P2?

PM: Isso, isso.

Bandido 1: Coé, tranqüilidade. Vou mandar a peça (arma) e o dinheiro aí...

PM: O amigo aqui tá no sofrimento, o que é que tu tem aí na mão?

Bandido 1: Nós tá só com um conto aqui.

Bandido 2: Coé, irmão. Desce a metralhadora e a pistola aí, irmão. Eu vendo meu carro e pago.

Bandido 1: Não esculacha o menor, não?!

PM: Vê isso rápido, que eu quero as peças (armas) e o dinheiro.

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