domingo, 27 de maio de 2007

VENDA DE DELEGACIAS: PRÁTICA HISTÓRICA


Delegacias loteadas com fins eleitorais


Prisões de pessoas ligadas à contravenção caíram 98% entre 1999 e 2005



Sérgio Ramalho


 O esquema de loteamento de delegacias do Rio — citado no inquérito da Polícia Federal, que resultou na Operação Gladiador — funcionava para arrecadar dinheiro para campanhas eleitorais. A afirmação é do presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Rio de Janeiro (Sindelpol), Vinícius George.

O delegado acrescenta que, entre 1999 e 2005, as prisões de pessoas ligadas à contravenção despencaram de 3.441 para 56, uma queda de 9 8 , 3 % .

O delegado afirma que o esquema já havia sido detalhado em relatório da Subsecretaria de Inteligência (SSI), mas por influência do ex-chefe de Polícia Civil Álvaro Lins nunca foi investigado pela Corregedoria da corporação. Deputado estadual eleito, Lins é apontado em inquérito da PF como suposto chefe do esquema, que tem com suporte quatro inspetores conhecidos como “inhos”. Três deles — Fábio Menezes de Leão, o Fabinho, Jorge Luiz Fernandes, o Jorginho, e Hélio Machado da Conceição, o Helinho — tiveram as prisões decretadas pela Justiça federal .

Vinícius George afirma que o loteamento de delegacias atende a interesses políticos.

— Essas nomeações têm como objetivo arrecadar dinheiro para caixa dois de campanha política e o controle coercitivo de curral eleitoral — assegura o delegado, que vem denunciando a existência do esquema há pelo menos dois anos.

Vinícius George usa dados estatísticos da Secretaria de Segurança para mostrar que, durante a gestão do casal Anthony e Rosinha Garotinho, as prisões de pessoas ligadas ao jogo do bicho e aos caça-níqueis caíram quase 99%. O delegado usa como base de comparação os números referentes aos anos de 1999 e 2005.

Em 1999, por exemplo, foram registradas 3.441 prisões de pessoas ligadas à contravenção.

Em 2005, o número despencou para 56. No decorrer dos governos Garotinho e Rosinha, os registros de prisões de contraventores foram decrescendo.

Em 2000, a polícia registrou 539 prisões de contraventores, no ano seguinte foi constatado pequeno crescimento, com prisões de 710 pessoas.

Em 2002, nova queda: 524 detidos.

De 2003 até 2005, as estatísticas indicam queda progressiva.

— Isso representa, no mínimo, uma tolerância com o bicho, que nos últimos oito anos espalhou máquinas por toda a cidade — afirma o presidente do Sindelpol.

Em 98, quase 15 mil presos ligados à contravenção Vinícius George ressalta que a comparação dos anos anteriores ao início do governo do casal Garotinho confirma a tolerância com a contravenção.

Em 1998, ano antes da posse de Garotinho, foram registradas 14.478 prisões de pessoas ligadas à contravenção.

— As estatísticas comprovam que a Secretaria de Segurança e, conseqüentemente, as polícias Civil e Militar, não reprimiram à contravenção.

Agora resta saber se por omissão ou conivência — argumenta o delegado.



Fonte: O Globo, pag. 14, de 19/12/2006.

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